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domingo, 19 de abril de 2009

"Menina e Moça"



Menina e Moça aqui estou, sentada nesta casa que a alegria e a cor abandonára há muito. Menina e Moça me intitulo, já que nem o meu nome sei, pois o esqueci ao tentar varrer as memórias do passado, mas essas ainda cá estão, a atormentar os meus sentidos. O nome esqueci tambem por há muito não haver ninguém a chamá-lo.

Agora olho para um velho espelho, ali pendurado ao fundo, que chora por reflectir a minha triste figura, de rosto moldado pelas lágrimas, cabelos há muito esquecidos e feições carregadas de mágoa, tal como tudo aquilo que me rodeia.

A alegria abandonou há já muito este local que parou no tempo. Nem as flores florescem mais aqui, nos vasitos à entrada, pois eu os regava com as minhas lágrimas e nenhuma flôr quer ver a luz deste triste vale nem nenhuma cresce regada pela fonte de amargura que é o meu choro.

Isolo-me cada vez mais na minha própria solidão, pois nenhuma mulher merece conhecer o poço de tristeza que sou eu, nem nenhum homem o compreenderia pois esses, esses são de mente leviana que não sofre e deixam sofrer a mulher, a escrava da vida.

Assim sou eu, Menina e Moça deste vale que não recorda o alegre passado para apaziguar a saudade do presente. Passado esse que tinha traços de perfeição desenhando dançantemente a minha vida. Agora esses traços passaram a contornos negros e cores frias que, abruptamente, riscam a minha alma e começam a criar o esboço da minha morte.

E isto sou eu, Menina e Moça.

[ Caracterização contextual da personagem principal do livro "Menina e Moça" de Bernardim Ribeiro. ]

2 comentários:

Afonso disse...

como admiro a foto ali do lado..

Eco disse...

Como nos deu trabalho a menina e moça xD