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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pensamentos de uma vida solar


Acordo a sorrir.

A tela em que os meus olhos batem não podia ser mais bela. És tu, enrolada nos meus lençóis brancos, a olhar para mim com esses olhos esbugalhados que brilham, como nenhuns outros, com o despenteado mais lindo do mundo brilhando com o sol que entra pela portada mal fechada…
Dou-te os bons dias sem te falar, apenas uma carícia e esse sorriso dizem tudo o que há para dizer, aliás, podia estar dias sem te falar, apenas a olhar para ti e a receber estes toques, esses beijos, esses suores frios que me aquecem, e todos os fluidos que temos para trocar…
“És tudo” digo-te eu, meio ensonado ainda, mas com a perfeita noção que todo o meu mundo está aqui, diante de mim. Nada mais importa, nada! Se o mundo ainda gira? Não sei, só sei que te amo, que és a mulher da minha vida.
Ouço uma música aguda a tocar, vinda de um dos bolsos das tuas calças que estão amarrotadas em cima duma cadeira. “É o meu telemóvel, deve ser para ir trabalhar” dizes tu, desanimada. “Amor, tenho de ir”…
Pergunto-me como é que tens coragem de sair daqui, deste nosso mundo perfeito onde nus, somos só eu e tu, mas percebo e “Até logo, diz qualquer coisa quando chegares! Amo-te até ao céu!”.
Passam horas, e eu continuo ali, na mesma posição, à tua espera, nem que seja de um telefonema, uma mensagem, mas nada…
“Começo a ficar preocupado… Será que aconteceu alguma coisa?” pergunto-me, “ já devia ter chegado a casa, no mínimo, há três horas, e tem o telefone desligado…”.
Levanto-me da cama, visto uma camisa e as calças que estão à mão e decido procurar-te. Vou a tua casa mas nem sinal de ti. No trabalho dizem que saíste à hora do costume e a tua mãe diz-me que ainda há duas horas lhe ligaste…
Volto a casa, tenho uma mensagem tua: “Amanhã podemos encontrar-nos? Precisamos de falar e esclarecer algumas coisas…”. Estou atónito, dormente, em pânico. “O que foi que eu fiz?” pergunto-me a mim mesmo, aos berros. Ligo-te imediatamente mas só ouço um “Agora não, é um assunto para ser falado pessoalmente…”.

Choro, não percebo o que se passa, estou em pânico, o mundo foge-me dos pés...

Nunca me foram tão difícil conduzir. As pernas tremem-me, tenho o estômago na garganta e fumo que nem um louco. Foda-se, ainda por cima apanho filas!
Finalmente! Estaciono o carro e entro no café onde combinaste e olho em todas as direcções freneticamente. Vejo-te, corro para ti.
“O que é que se passa? O que temos para falar? Porque é que ontem não me disseste nada? Fiquei tão preocupado!!”. Tantas perguntas que me vêm à cabeça. Só te quero beijar e levar comigo. Tu, apática, dás um bafo no cigarro, apaga-lo, olhas para mim e, com a expressão mais vazia de sempre dizes “Senta-te, queres café?”.
“Não, não quero café! Quero que me digas o que se passa!”, estou cada vez mais confuso, não sei o que fazer…
“ Não se passa nada…” dizes tu, e antes de acabares a frase já eu suspiro de alivio mas… “E é esse o problema. Já não sinto necessidade de estar contigo, acho que já demos tudo o que tínhamos para dar um ao outro e… secalhar não vale a pena continuar…”.

O meu mundo caiu.

“O quê?”, gaguejo eu, ainda incrédulo, e penso que isto é uma brincadeira, uma surpresa, sei lá, é irreal…
“Sim, é isso que ouviste. Eu gosto de ti, mas isso já não chega, e o dia de ontem foi a prova que não sinto a tua falta como devia, e não te quero enganar…”
Saiu imediatamente dali, lavado em lágrimas, e só ouço atrás de mim “mas podes continuar a contar comigo”.
Vagueio a pé agora, as lágrimas caiem-me do rosto e esfrego a mão no nariz. Vou contra tudo e todos, mas não paro nunca, e vou a andar a uma velocidade maior que o normal. Não sei para onde vou, mas vou, preciso de ir…
A dada altura dou meia volta e corro até ao carro, meto a chave na ignição e penso “foda-se só quero chegar a casa e dormir, acabou!”. A alta velocidade, com uns apitões a meio, chego, abro a porta e atiro-me para a cama. Choro.
E choro de verdade. Nunca tinha chorado tanto, ainda mais aqui, nesta cama que tem o teu cheiro, nesta cama onde ainda te vejo, de olhos esbugalhados, a olhar para mim. Ainda ouço os teus lábios sussurrando “Amo-te…”. Soluço, grito, gemo, choro.
“Porquê? PORQUÊ FODA-SE!?” é a pergunta que me enche a cabeça, que me faz doer a cabeça e criar mil e uma teorias, mas nenhuma na qual eu acredite. Adormeço, a soluçar…
Acordo. Já são quatro e tal da tarde. Faltei ao trabalho. “Merda para o trabalho também” penso eu e levanto-me, tomo duche, e saio de casa, preciso de ir arejar…
Saio de casa e o sol está-se a pôr: vejo o fim do dia. Os últimos raios de sol beijam-me a pele, deixando-a alaranjada e mostram-me que tudo tem um fim, e nunca ninguém dá explicações a ninguém sobre o porquê…


4 comentários:

inês calixto disse...

que dramatismo gustavo :O

Anónimo disse...

Ainda que dramática, esta história prendeu-me do princípio ao fim e é isso que se quer de uma boa história.
Parabéns ;)

Paula Oliveira

Anónimo disse...

concordo com o comentário acima.
Puxa realmente pela nossa atenção e faz nos sentir como se fossemos nós! Sem dúvida puxa pelos sentimentos ! Obrigado . :D

Joana Graça

Joana Graça disse...

conseguiste-me por a imaginar as minhas figuras quando estou mal .:P
acredita , tens um talento incrível @